Os grupos de animais são muito heterogêneos quanto a padrões de distribuição geográfica nas AUs da América do Sul. Enquanto alguns grupos são em geral homogeneamente distribuídos entre as vários regiões e ambientes das AUs (notadamente as espécies de vertebrados), algumas assembleias faunísticas parecem exibir claros padrões de diferenciação em regiões particulares (alguns grupos de artrópodes). Cabe, porém, enfatizar que para uma grande proporção dos ambientes úmidos faltam dados amostrais razoáveis que possibilitem quaisquer considerações sobre diversidade faunística, especialmente nas regiões centrais da América do Sul.
Explicações sobre a distribuição geográfica dos animais se baseiam sobretudo em fatores históricos e/ou ecológicos. Enquanto fatores históricos são especialmente relacionados a processos de vicariância, dispersão e extinções locais, fatores ecológicos se baseiam, especialmente, em preferências por habitat e/ou relações inter/intraespecíficas que determinam a ocorrência de taxa particulares em habitats.
As áreas úmidas da região central da América do Sul correspondem a uma enorme extensão de ambientes inundáveis, especialmente caracterizados pela abundância de espécies animais; porém, a maior parte dos inventários faunísticos sugerem, fortemente, que as altas abundâncias não são acompanhadas de altas diversidades locais. Por outro lado, algumas áreas em particular desses ambientes foram pobremente exploradas, e dependem de pesquisa mais detalhada sobre diversificação morfológica e genética. Por exemplo, dados não publicados indicam a existência de um centro de endemismo de artrópodes no Pantanal Brasileiro, em contraste com o paradigma atual quanto à falta de identidade faunística dessa região.
O objetivo deste projeto é explorar a existência de diferenciações regionais em vertebrados, bivalves, e artrópodes no Pantanal stricto sensu, Pantanal do Araguaia e Pantanal do Guaporé, assim como em áreas adjacentes de Cerrado (lato sensu), outras formações abertas e florestas de galeria. Considerando que essas áreas representam unidades independentes quanto à sua origem geológica e bacias hidrográficas respectivas, os táxons mais informativos serão selecionados para testar padrões locais de diferenciação com base em parâmetros morfológicos e moleculares. O uso de abordagens complementares, especialmente empregando técnicas modernas de filogeografia e barcoding é crucial para entender os padrões de diversificação que podem aparecer encobertos em estudos unicamente morfológicos. A diversidade críptica, já documentada como escondida por constituições morfológicas homogêneas, e padrões de distribuição geográfica excessivamente amplos, sugere que assembleias faunísticas das áreas úmidas podem revelar estruturação regional da diversidade ainda por descobrir. Os resultados encontrados serão contrastados com os esquemas de regionalização já propostos por outros membros do INAU, com base especialmente em vegetação e fatores físicos e climáticos. A UFMT é bem apropriada para a realização destes estudos por possuir coleções excelentes para fins comparativos.
Muitas espécies de aves migratórias utilizam o Pantanal mato-grossense como sítio de reprodução ou sítio de parada e alimentação estratégico durante sua jornada migratória. Geolocalizadores serão utilizados em combinação com a análise de isótopos estáveis nas penas e garras para obter informações sobre as rotas e estimativas diárias sobre os deslocamentos de espécies, e o uso por estes migrantes de áreas dentro do Pantanal e áreas preservadas e perturbadas de Cerrado que circundam a região pantaneira.
Subprojetos:
Marcadores Moleculares como Ferramentas para o Estudo da Regionalização Faunística e Biogeografia Histórica das Áreas Úmidas da Região Central da América do Sul.
Integrando Taxonomia Tradicional e Código de Barras “Barcodes” na Identificação de Centopéias (Chilopoda) e Onicóforos (Onychophora) em Áreas Úmidas da América do Sul.
Padrões de Diferenciação Regional da Herpetofauna do Pantanal
Scarabaeinae (Coleoptera) e outros Scarabaeoidea das Áreas Úmidas da Região Central da América do Sul: Distribuição Geográfica e Filogeografia de Espécies
Estudo da Diversidade de Bivalves Límnicos nas Grandes AUs do Cerrado Brasileiro: Desafios para um Mundo de Rápidas Mudanças
Dinâmica e Ecologia Multi-Sítios das Aves Migratórias do Pantanal: usando Geolocalizadores e Isótopos Estáveis para Conhecer e Conservar as Espécies e seus Habitats.